O Acidente Vascular Cerebral, popularmente conhecido como AVC ou derrame, é uma das principais causas de morte e incapacidade no Brasil e no mundo. A boa notícia é que cerca de 90% dos casos de AVC podem ser prevenidos através de mudanças no estilo de vida, sendo a atividade física regular uma das estratégias mais eficazes nessa prevenção.

O que é o AVC e por que ele acontece

O AVC ocorre quando há uma interrupção do fluxo sanguíneo para uma parte do cérebro, seja por obstrução de um vaso sanguíneo (AVC isquêmico, responsável por 85% dos casos) ou por ruptura de um vaso (AVC hemorrágico). Sem o suprimento adequado de oxigênio e nutrientes, as células cerebrais começam a morrer em questão de minutos, causando danos que podem ser irreversíveis.

No Brasil, o AVC atinge mais de 100 mil pessoas por ano, sendo a segunda maior causa de morte no país. Além da mortalidade, o AVC é a principal causa de incapacidade funcional, deixando sequelas que afetam a mobilidade, fala, memória e capacidade de realizar atividades cotidianas. A cada seis segundos, uma pessoa morre de AVC no mundo.

Os principais fatores de risco para o AVC incluem hipertensão arterial, diabetes, colesterol elevado, obesidade, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool e histórico familiar. A maioria desses fatores está diretamente relacionada ao estilo de vida e pode ser modificada através de hábitos mais saudáveis.

Como a atividade física protege contra o AVC

A prática regular de exercícios físicos atua em múltiplas frentes na prevenção do AVC. Primeiramente, ajuda a controlar a pressão arterial, principal fator de risco para o derrame. Pessoas hipertensas que praticam atividade física regularmente podem reduzir sua pressão sistólica em até 10 mmHg, diminuindo significativamente o risco de AVC.

Os exercícios também melhoram o perfil lipídico, reduzindo o colesterol ruim (LDL) e os triglicerídeos, enquanto aumentam o colesterol bom (HDL). Essa melhora na qualidade das gorduras no sangue diminui a formação de placas de aterosclerose nos vasos sanguíneos, que são uma das principais causas de obstrução vascular cerebral.

O controle do peso corporal é outro benefício importante. A obesidade, especialmente a abdominal, está fortemente associada ao aumento do risco de AVC. A atividade física regular, combinada com alimentação equilibrada, ajuda a manter o peso saudável e reduz a gordura visceral, protegendo o sistema cardiovascular como um todo.

Além disso, os exercícios melhoram a sensibilidade à insulina e ajudam no controle da glicemia, prevenindo ou controlando o diabetes tipo 2, outro importante fator de risco para o AVC. A atividade física também reduz a inflamação crônica no organismo e melhora a função endotelial, mantendo os vasos sanguíneos mais saudáveis e elásticos.

Melhores tipos de exercícios para prevenção

Exercícios aeróbicos são especialmente eficazes na prevenção do AVC. Caminhada, corrida, natação, ciclismo e dança são atividades que aumentam a frequência cardíaca, melhoram a circulação sanguínea e fortalecem o sistema cardiovascular. O ideal é praticar pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada por semana, ou 75 minutos de atividade vigorosa.

A caminhada merece destaque por ser acessível, segura e extremamente eficaz. Estudos mostram que caminhar regularmente por 30 minutos, cinco vezes por semana, pode reduzir o risco de AVC em até 30%. Para quem está começando, caminhar é uma excelente porta de entrada para o mundo dos exercícios, podendo ser praticada em qualquer lugar e sem necessidade de equipamentos especiais.

Exercícios de fortalecimento muscular também são importantes. Musculação, treinos funcionais e exercícios com o próprio peso corporal ajudam a aumentar a massa muscular, melhorar o metabolismo e controlar o peso. Recomenda-se realizar treinos de fortalecimento pelo menos duas vezes por semana, trabalhando os principais grupos musculares.

Atividades que combinam movimento com relaxamento, como yoga e tai chi chuan, trazem benefícios adicionais. Além de melhorar a flexibilidade, equilíbrio e força, essas práticas ajudam a reduzir o estresse, outro fator que pode contribuir para o aumento da pressão arterial e risco de AVC.

Intensidade e frequência ideais

A intensidade do exercício deve ser adequada ao nível de condicionamento individual. Para iniciantes ou pessoas sedentárias há muito tempo, começar com atividades leves e aumentar gradualmente a intensidade é fundamental para evitar lesões e garantir adesão ao programa. Uma boa referência é o “teste da conversa”: durante o exercício moderado, você deve conseguir conversar, mas não cantar.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que adultos pratiquem pelo menos 150 a 300 minutos de atividade física moderada por semana, ou 75 a 150 minutos de atividade vigorosa. Essa quantidade pode ser distribuída ao longo da semana conforme a rotina individual, sendo que sessões de pelo menos 10 minutos já trazem benefícios.

A consistência é mais importante que a intensidade. É melhor caminhar 30 minutos todos os dias em ritmo moderado do que fazer uma única sessão intensa por semana. O corpo responde melhor ao estímulo regular, e os benefícios cardiovasculares se acumulam com a prática contínua ao longo do tempo.

Para pessoas que já sofreram AVC ou têm fatores de risco elevados, a intensidade e tipo de exercício devem ser individualizados e sempre orientados por profissionais de saúde. A avaliação médica antes de iniciar um programa de exercícios é essencial para garantir segurança e eficácia.

Outros hábitos que complementam a prevenção

A alimentação equilibrada trabalha em sinergia com a atividade física na prevenção do AVC. Priorize uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos integrais, peixes e gorduras saudáveis. Reduza o consumo de sal, açúcar, alimentos ultraprocessados e gorduras saturadas. A dieta mediterrânea tem mostrado excelentes resultados na proteção cardiovascular e cerebral.

Controlar o estresse crônico é fundamental. Técnicas de relaxamento, meditação, hobbies prazerosos e sono adequado contribuem para manter a pressão arterial controlada e reduzir a inflamação no organismo. O estresse prolongado aumenta significativamente o risco de hipertensão e, consequentemente, de AVC.

Abandonar o tabagismo e moderar o consumo de álcool são medidas essenciais. O cigarro danifica os vasos sanguíneos e aumenta o risco de formação de coágulos, enquanto o consumo excessivo de álcool eleva a pressão arterial. Eliminar ou reduzir esses hábitos potencializa os benefícios da atividade física.

Manter acompanhamento médico regular permite identificar e controlar fatores de risco precocemente. Verificar periodicamente a pressão arterial, níveis de colesterol e glicemia ajuda a tomar medidas preventivas antes que problemas mais graves se desenvolvam.

Sinais de alerta do AVC

Reconhecer os sinais de um AVC em andamento pode salvar vidas. Use a regra do SAMU: Sorriso (peça para a pessoa sorrir e observe se um lado do rosto está caído), Abraço (peça para levantar os dois braços e veja se um deles cai), Música (peça para repetir uma frase simples e observe se a fala está arrastada ou confusa), Urgência (se qualquer um desses sinais estiver presente, chame o 192 imediatamente).

Outros sintomas incluem dormência ou fraqueza súbita em um lado do corpo, confusão mental, dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos, dificuldade para caminhar, tontura, perda de equilíbrio ou coordenação, e dor de cabeça súbita e intensa sem causa aparente. Tempo é cérebro: quanto mais rápido o atendimento, maiores as chances de recuperação completa.

Mesmo que os sintomas desapareçam rapidamente, é fundamental buscar atendimento médico. O Ataque Isquêmico Transitório (AIT), também chamado de “mini-AVC”, pode ser um aviso de que um AVC maior está por vir. Não ignore os sinais do seu corpo.

Morgana Canarelli - Ginástica Laboral